A partir de estudos da técnica de feltragem com agulha, Débora Anacleto criou o “Pandemic Guy”, um personagem singular em estilo, mas que reflete o sentir de uma crise mundial vivida por todos. Ansiedade, inconstância, incerteza, como personificação desses sentimentos e percepções, a artista traduz em expressão de signo, uma recorrente autorreflexão forçada e experienciada por toda uma geração. O que se passa na cabeça do Pandemic Guy?
Eu estou parado, assustado, estou aterrorizado com as surpresas que o ar lá de fora pode trazer. Estou perdido, encarcerado, sem previsão, sem pretensão, sem pregar os olhos. Estou consciente demais, falando sozinho, olhando para a janela, para um mundo que está parado. Queria sair para correr, para comer, para beber, queria ter ido naquela festa, mas, pensando bem, eu nunca quis. Queria que me deixassem em paz. Estou em paz demais, paz em excesso é ausência de paz. Queria que amanhã fosse sexta, queria ter lavado aquela louça, e se a última entrega do mercado não estiver limpa o suficiente? Paraliso. Para. Como parar pode ser assim difícil? Ouço que agora há tempo de sobra, há tempo sim, mas aqui não há tempo algum, agora mesmo já passou duas horas inteiras. E eu? Não fiz nada. É bom não fazer nada. No entanto já há nada demais para fazer. Quer que eu resolva isso? Relaxa, não é nada demais. Agora preciso fazer meditação, existe um lado bom em tudo né? Respira. Uma. Duas. Três vezes. Esqueci. Como que respira mesmo? Estou parado. Fecharam o Louvre. Fecharam a igreja. Fecharam os olhos. Estão fazendo vista grossa. Maldito “micróbio”! Maldito presidente! Maldita hora que não passa. Vou abrir os olhos devagar, vou me deixar vagar pela rua. Não há ninguém na rua. Como podem ser tão injustos, como podem ver a morte assim e seguir? Fecharam os olhos. Eu fechei também, tenho que dormir de novo. Estou parado. Estou. Parado. Eu. Estou. Parado?
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